Lattes

sábado, 27 de fevereiro de 2010

As cinco sabedorias. Quarteto Stanislas, Sala Poirel, Nancy, 2009

Laurent Causse, Bertrand Menut, Marie Triplet e Jean de Spengler

Gravação editada (ouça aqui)

No Brasil, estamos acostumados a receber sempre com grande aplauso as formações europeias de música clássica. Mais afeitos ao verso de Rimbaud (Iluminations), "la musique savante manque à notre désir", ainda não realizamos aquilo que os EUA e a Austrália já fizeram, e tão bem ilustrado por R. W. Emerson (History, Essays, First Series):


A Gothic cathedral affirms that it was done by us and not done by us. Surely it was by man, but we find it not in our man. But we apply ourselves to the history of its production. We put ourselves into the place and state of the builder. We remember the forest-dwellers, the first temples, the adherence to the first type, and the decoration of it as the wealth of the nation increased; the value which is given to wood by carving led to the carving over the whole mountain of stone of a cathedral. When we have gone through this process, and added thereto the Catholic Church, its cross, its music, its processions, its Saints' days and imageworship, we have as it were been the man that made the minster; we have seen how it could and must be. We have the sufficient reason.

Minha experiência com o Ensemble Stanislas começou em 2007, quando eu era curador associado de música do Centro Cultural São Paulo. Tivemos a felicidade de assisti-los tocando um repertório que revelava autores menos difundidos (não por isso menos importantes) e abordagens diferenciadas de obras já consagradas. Foi o caso dos quartetos de Ravel e Ropartz.

Ao tomarmos um café, depois do concerto, ficou combinado que eu lhes enviaria um quarteto meu para ser estreado no Ano da França no Brasil, na turnê brasileira de 2009, e no evento "Le Brésil à Nancy", comemorativo dos 25 anos do grupo. Coloquei em marcha uma ideia que há muito tempo me intrigava a respeito das subdivisões do tactus — pulsação primordial de uma determinada composição. Teoricamente haveria uma subdivisão quinária da unidade. E foi o que fiz. As cinco sabedorias foram escritas quase inteiramente num compasso quinário em que a tentação de subdividi-lo em 3+2 ou 2+3 é sempre frequente, mesmo até entre músicos profissionais.

O Stanislas aceitou o desafio e realizou, com a esperada competência, um mergulho na composição que honra e alegra qualquer compositor, a ponto de eu não sentir a menor necessidade de fazer qualquer comentário. Apenas deliciei-me assistindo-os na turnê brasileira e depois em Nancy, na belíssima Sala Poirel.

Visite o sítio deles

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Orquestra Universitária na Gazeta de Ribeirão

Publicada em 21/2/2010

Dimas Carte: monitor da OU

Gente

SOM PARA TODOS

Música Democrática
Orquestra Universitária da USP Ribeirão busca alunos e melhora na técnica com ampliação do projeto em 2010

RENATO VITAL

Gazeta de Ribeirão

renato.pinho@gazetaderibeirao.com.br

Em busca de novos músicos e de aperfeiçoamento da técnica de cada instrumento, o Departamento de Música da USP de Ribeirão Preto abre espaço na Orquestra Universitária para quem quer aprender música. Quando a Orquestra começou, em 2008, o grupo era formado somente por cordas, mas a partir de 2010 ela se torna sinfônica. Quem estiver interessado em ingressar no projeto pode aparecer nas aulas gratuitas que acontecem no Departamento, localizado no campus da Usp, às quintas-feiras das 19h às 21h e aos sábados das 9h às 12h. Na última quinta aconteceu a primeira reunião do ano.

O coordenador do projeto, Marcos Câmara de Castro, explica que a Orquestra surgiu de uma necessidade do curso de música, mas que a idéia é descobrir novos artistas da comunidade de Ribeirão. "A intenção não é ser uma orquestra profissional, e sim pedagógica. Levar os músicos da comunidade e do campus para se apresentar e trocar experiências", disse. Segundo Câmara, a Orquestra Universitária já tem acordo com o Centro Cultural Campos Elíseos, que também oferece aulas de música de graça, para encaminhar os alunos que terminam o curso no Centro para a Orquestra.

Para o aluno do terceiro ano do curso de licenciatura de música da USP e monitor da Orquestra, Dimas Carte, 29 anos, a sensação de ver o grupo aprendendo e tocando junto é ímpar. "Ver no rosto do aluno que ele tem prazer em fazer música, em estar ali fazendo parte da Orquestra, é o nosso objetivo", disse. Carte conta que os novatos também têm a oportunidade de terem aulas mais privadas para serem "alfabetizados" musicalmente.

A Orquestra Universitária pode também ser uma chance para alguém voltar aos estudos. "Temos um participante, de 42 anos, que é fonoaudiólogo e voltou a estudar música porque se empolgou com o projeto", disse Carte. Segundo o coordenador da Orquestra, muitos alunos do campus se aproximam da música enquanto não começam a trabalhar nas suas áreas. "Temos aqui alunos de administração, da medicina, pessoas que sabem tocar muito bem, pessoas que estão aprendendo. É uma orquestra bem diversificada", contou Câmara.

Jovens têm mais contato com música

Não são somente os universitários que podem ter aulas gratuitamente em Ribeirão Preto. As crianças e jovens de 6 a 17 anos que gostariam de aprender a tocar algum instrumento podem procurar o Projeto Guri. Com a intenção de colocar mais jovens em contato com a cultura, o Guri oferece aulas de instrumentos mais populares, como violão, bateria e contra-baixo e dos clássicos, como violino, flauta transversal entre outros. Segundo a administradora regional do projeto, Aline Feltrin, esse ano o Guri deve mudar de sede para poder oferecer mais vagas. "Muitos reclamam da falta de vagas, mas geralmente o projeto recebe muitos elogios. As crianças já se apresentaram no Teatro Municipal e no Pedro 2", disse. Aline conta que há ex-alunos do Guri que hoje são educadores do projeto. Os internos da Fundação Casa também são atendidos pelo Projeto Guri. "Damos aulas dentro da instituição. Os alunos gostam muito, eles não têm acesso à cultura. Já fizeram até algumas apresentações", contou Aline. (RV)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Otro poema de los dones, para coro, metais e tímpanos

Clique aqui para ouvir a música

Borges nasceu em 1899 e morreu em 1986. Coincidentemente, a estreia desta música deu-se no ano de sua morte e foi repetida no evento Borges 100, em 1999, no IEB/USP, com o Coral Paulistano & Músicos da OSM: Paul Mitchel e Eduardo Madureira (trompetes), Roney Stella e Hugo Ksenhuk (trombones), Carlos Tarcha (tímpanos). Regente: Samuel Kerr. Por ocasião da abertura da exposição de Alejandro Vaccaro de primeiras edições do autor argentino. Como nota de programa, fiz uma compilação, não exaustiva, das citações sobre música na obra de Borges (aqui vão sem as referências bibliográficas):

• Por la música, misteriosa forma del tiempo

• Declives de la música, la más dócil de las formas del tiempo

• Caja de música
Música del Japón. Avaramente
De la clepsidra se desprenden gotas
De lenta miel o de invisible oro
Que en en tiempo repiten una trama
Eterna y frágil, misteriosa y clara.
Temo que cada una sea la última.
Son un ayer que vuelve. ¿De qué templo,
De qué jardín en la montaña,
De qué vigílias ante a un mar que ignoro,
De qué pudor de la melancolía,
De qué perdida y rescatada tarde,
Llegan a mí, su porvenir remoto?
No lo sabré. No importa. En esa música
Yo soy. Yo quiero ser. Yo me desangro.

• A Johannes Brahms
Yo que soy un intruso en los jardines
Que has prodigado a la plural memoria
Del porvenir, quise cantar la gloria
Que hacia el azul erigen tus violines.
He desistido ahora. Para honrarte
No basta esa miseria que la gente
Suele apodar con vacuidad el arte.
Quien te honrare ha de ser claro y valiente.
Soy un cobarde. Soy un triste. Nada
Podrá justificar esta osadía
De cantar la magnífica alegría
- Fuego y cristal - de tu alma enamorada,
Mi servidumbre es la palabra impura,
Vástago de un concepto y de un sonido;
Ni símbolo, ni espejo, ni gemido,
Tuyo es el río que huye y que perdura.

• si una mujer desdeña mi amor
haré de mi tristeza una música,
un alto río que siga resonando en el tiempo

• El espejo ilusorio de la música

• Convertir el ultraje de los años
En una música, un rumor y un símbolo

• Deseo y posesión y el don del verso,
Que transforma las penas verdaderas
En una música, un rumor y un símbolo

• Una cosa invisible está pereciendo del mundo
un amor no más ancho que una música

• Pero hay ternuras que por ninguna muerte son menos:
las íntimas, indescifrables noticias que nos cuenta la música

• Cuando la sombra no entorpece los pasos
y la venida de la noche se advierte
como una música esperada y antigua
• Compartir el ahora
como se comparte la música
o el sabor de una fruta

• El que agradece que en la tierra haya música (...)
Esas personas, que se ignoran, están salvando el mundo.

• Callan las cuerdas
La música sabía
lo que yo siento

• Ha soñado la música, que puede prescindir del espacio

• La sal, el agua y la música pueden purificarnos

• Como dijo Schopenhauer, la música no es algo que se agrega al mundo; la música ya es un mundo

• O que un músico siente que el extraño mundo de los sonidos – el mundo más extraño del arte – está siempre buscándolo, que hay melodias y disonancias que lo buscan

• El arte de la palabra, aún más inexplicable que el de la música, porque incluye la música

• (...) Como la música, las matemáticas pueden prescindir del universo, cuyo ámbito compreende (...) y cuyas ocultas leyes explóran (...)